quarta-feira, 1 de outubro de 2014

TRISTEZA




Falo-me em versos tristes,
Entrego-me a versos cheios 
De névoa e de luar;
E esses meus versos tristes
São tênues, céleres veios
Que esse vago luar
Se deixa pratear.

Sou alma em tristes cantos,
Tão tristes como as águas 
Que uma castelã vê
Perderem-se em recantos
Que ela em soslaio, de pé,
No seu castelo de prantos
Perenemente vê. . .
Assim as minhas magoas não domo
Cantam-me não sei como
E eu canto-as não sei porquê.


Fernando Pessoa
Em Poesia do Eu
- Obra essencial de Fernando Pessoa





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